segunda-feira, 17 de setembro de 2012

MITO E FILOSOFIA


MITO E FILOSOFIA


Uma maneira de tentar entender o que seja Filosofia é recorrer à etimologia da palavra “FILOSOFIA”. A palavra “FILOSOFIA” vem do grego antigo “Filosofia”. Esse termo é o resultado da união de dois outros termos gregos: “filo” (filo) e “sofia” (sofia). Grosso modo, “filo” na língua grega antiga significa um tipo de amor, ou um gostar especial por algo; já o termo “sofia” pode ser traduzido por conhecimento. Assim, Filosofia pode ter a seguinte tradução: “aquele que ama o conhecimento”.
Outra maneira de se tentar caracterizar a Filosofia é contrapô-la ao pensamento mítico. Ou seja, há elementos de atrito entre os pensamentos filosófico e mítico que ajudam na elucidação do que seja o filosofar. Essa abordagem é interessante porque o pensamento filosófico aparece na Grécia, por volta do século VI a.C., objetivando, entre outros, atacar o pensamento mítico. Existe certo consenso de que Tales de Mileto (circa 625 a.C – c. 556 a.C.) pode ser considerado o primeiro filósofo da história da Filosofia.





Tales de Mileto

Então, logicamente, é necessário tentar elucidar o que seja o mito para depois tentar entender o trabalho filosófico. Segundo Danilo Marcondes:
O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio termo grego mythos (muqos) significa um tipo bastante especial de discurso, o discurso fictício ou imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de “mentira”. (MARCONDES, 2006, p. 20)

Podemos concluir que o pensamento mítico está preocupado em elucidar determinado tipo de realidade por meio de uma tradição cultural. Assim, as lendas, os costumes, as crenças de um povo, o sobrenatural, o mistério, a magia, entre outros, servem de base para o estabelecimento de determinado mito. Resumidamente, o mito é o produto da vida cultural de um povo.
A crítica filosófica atacará a ideia de que a cultura é o instrumento último para se alcançar a realidade ou a verdade. Ainda mais quando a explicação mítica é carregada por elementos culturais que recorrem ao mistério e ao sobrenatural, por exemplo. Um dos esforços filosóficos está em tentar entender a realidade sem apelar para o sobrenatural e para o mistério.
Podemos entender que o filósofo tenta entender a realidade buscando encontrar os elementos causadores dessa mesma realidade. Ou seja, os primeiros filósofos tentaram entender a natureza por meio dos elementos naturais, elementos contidos na própria realidade e não fora dela. Esse modo de tentar entender a realidade faz um forte contraponto à explicação mítica, pois a explicação mítica aceita normalmente explicações exteriores aos fenômenos naturais.
Para ilustrar o que foi colocado, podemos imaginar, por exemplo, uma inundação ocorrida às margens da costa grega pelo mar Egeu no século VI a.C. Suponha que essa inundação causou vários estragos e causou a morte de centenas de gregos. O pensamento mítico apelará para a ideia de que Poseidon, deus dos mares na mitologia grega, estava zangado e, por isso, criou uma onda gigante para mostrar o seu poder. A ira de Poseidon, segundo a explicação mítica, poderia ter sido causada por algum ato humano que desagradou enormemente ao deus dos mares; assim, por vingança, Poseidon causou a morte de centenas de pessoas para mostrar sua cólera. Para evitar uma futura inundação, a explicação de tipo mítica poderia apelar para a ideia de que é preciso jogar um touro ao mar como forma de pedir desculpas a Poseidon. 





                                     Figura que representa a ira do deus grego Poseidon

Diferentemente, a explicação filosófica tentaria encontrar os elementos que formam uma inundação. O raciocínio causal poderia ser estabelecido mais ou menos assim: a inundação foi causada pela força das águas que se manifestaram por meio das ondas. Mas, o que causou essas ondas? A explicação filosófica recorrerá a algum elemento da natureza contido no mundo para tentar responder a essa questão. Esse elemento pode ser a força dos ventos; ou seja, o vento forte da tempestade propiciou a morte de centenas de pessoas. Podemos perceber que esse tipo de explicação parece ser mais simples do que a explicação mítica, pois a explicação filosófica apela para um elemento natural notável para qualquer um – o vento. Por conta disso, costuma-se afirmar que o pensamento filosófico busca a explicação natural para tentar entender o mundo; podemos chamar a isso de naturalismo.
O naturalismo filosófico busca retirar qualquer elemento que não tenha uma relação necessária direta com o fenômeno analisado. Assim, além de ser mais simples a explicação naturalista, o filósofo pode indagar se é razoável imaginar um ser capaz de controlar os mares e, mesmo que ele exista, se nós, pobres mortais, somos capazes de entendê-lo. Esse conjunto de questionamentos fundados em certa dúvida estrutura o que pode ser chamado de pensamento crítico. O exercício do pensamento crítico exige um questionamento constante sobre qualquer suposta verdade ou ponto de vista. Assim, o criticismo tanto será melhor quanto mais os debatedores estiverem propensos a aceitar ouvir, compreender e talvez reconhecer que a opinião alheia é melhor. Para que isso aconteça é necessário além do conhecimento, uma boa dose de mente aberta.



FONTES BIBLIOGRÁFICAS

MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2006.




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