MITO E FILOSOFIA
Uma
maneira de tentar entender o que seja Filosofia é recorrer à etimologia da
palavra “FILOSOFIA”. A palavra “FILOSOFIA” vem do grego antigo “Filosofia”. Esse termo é o resultado da
união de dois outros termos gregos: “filo” (filo)
e
“sofia” (sofia). Grosso
modo, “filo” na língua grega antiga significa um tipo de amor, ou um gostar
especial por algo; já o termo “sofia” pode ser traduzido por conhecimento.
Assim, Filosofia pode ter a seguinte tradução: “aquele que ama o conhecimento”.
Outra
maneira de se tentar caracterizar a Filosofia é contrapô-la ao pensamento
mítico. Ou seja, há elementos de atrito entre os pensamentos filosófico e
mítico que ajudam na elucidação do que seja o filosofar. Essa abordagem é
interessante porque o pensamento filosófico aparece na Grécia, por volta do
século VI a.C., objetivando, entre outros, atacar o pensamento mítico. Existe
certo consenso de que Tales de Mileto (circa
625 a.C – c. 556 a.C.) pode ser
considerado o primeiro filósofo da história da Filosofia.
Tales
de Mileto
Então,
logicamente, é necessário tentar elucidar o que seja o mito para depois tentar entender
o trabalho filosófico. Segundo Danilo Marcondes:
O
pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos
essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da
natureza e dos processos naturais e as origens deste povo, bem como seus
valores básicos. O mito caracteriza-se sobretudo pelo modo como estas
explicações são dadas, ou seja, pelo tipo de discurso que constitui. O próprio
termo grego mythos (muqos)
significa um tipo bastante especial de discurso, o discurso fictício ou
imaginário, sendo por vezes até mesmo sinônimo de “mentira”. (MARCONDES, 2006,
p. 20)
Podemos
concluir que o pensamento mítico está preocupado em elucidar determinado tipo
de realidade por meio de uma tradição cultural. Assim, as lendas, os costumes,
as crenças de um povo, o sobrenatural, o mistério, a magia, entre outros,
servem de base para o estabelecimento de determinado mito. Resumidamente, o
mito é o produto da vida cultural de um povo.
A
crítica filosófica atacará a ideia de que a cultura é o instrumento último para
se alcançar a realidade ou a verdade. Ainda mais quando a explicação mítica é
carregada por elementos culturais que recorrem ao mistério e ao sobrenatural,
por exemplo. Um dos esforços filosóficos está em tentar entender a realidade
sem apelar para o sobrenatural e para o mistério.
Podemos
entender que o filósofo tenta entender a realidade buscando encontrar os
elementos causadores dessa mesma realidade. Ou seja, os primeiros filósofos
tentaram entender a natureza por meio dos elementos naturais, elementos
contidos na própria realidade e não fora dela. Esse modo de tentar entender a
realidade faz um forte contraponto à explicação mítica, pois a explicação
mítica aceita normalmente explicações exteriores aos fenômenos naturais.
Para
ilustrar o que foi colocado, podemos imaginar, por exemplo, uma inundação
ocorrida às margens da costa grega pelo mar Egeu no século VI a.C. Suponha que
essa inundação causou vários estragos e causou a morte de centenas de gregos. O
pensamento mítico apelará para a ideia de que Poseidon, deus dos mares na
mitologia grega, estava zangado e, por isso, criou uma onda gigante para
mostrar o seu poder. A ira de Poseidon, segundo a explicação mítica, poderia
ter sido causada por algum ato humano que desagradou enormemente ao deus dos
mares; assim, por vingança, Poseidon causou a morte de centenas de pessoas para
mostrar sua cólera. Para evitar uma futura inundação, a explicação de tipo
mítica poderia apelar para a ideia de que é preciso jogar um touro ao mar como
forma de pedir desculpas a Poseidon.
Figura que
representa a ira do deus grego Poseidon
Diferentemente,
a explicação filosófica tentaria encontrar os elementos que formam uma
inundação. O raciocínio causal poderia ser estabelecido mais ou menos assim: a
inundação foi causada pela força das águas que se manifestaram por meio das
ondas. Mas, o que causou essas ondas? A explicação filosófica recorrerá a algum
elemento da natureza contido no mundo para tentar responder a essa questão.
Esse elemento pode ser a força dos ventos; ou seja, o vento forte da tempestade
propiciou a morte de centenas de pessoas. Podemos perceber que esse tipo de
explicação parece ser mais simples do que a explicação mítica, pois a
explicação filosófica apela para um elemento natural notável para qualquer um –
o vento. Por conta disso, costuma-se afirmar que o pensamento filosófico busca
a explicação natural para tentar entender o mundo; podemos chamar a isso de naturalismo.
O
naturalismo filosófico busca retirar qualquer elemento que não tenha uma
relação necessária direta com o fenômeno analisado. Assim, além de ser mais
simples a explicação naturalista, o filósofo pode indagar se é razoável
imaginar um ser capaz de controlar os mares e, mesmo que ele exista, se nós,
pobres mortais, somos capazes de entendê-lo. Esse conjunto de questionamentos
fundados em certa dúvida estrutura o que pode ser chamado de pensamento crítico. O exercício do
pensamento crítico exige um questionamento constante sobre qualquer suposta
verdade ou ponto de vista. Assim, o criticismo tanto será melhor quanto mais os
debatedores estiverem propensos a aceitar ouvir, compreender e talvez reconhecer
que a opinião alheia é melhor. Para que isso aconteça é necessário além do
conhecimento, uma boa dose de mente aberta.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
MARCONDES,
Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editora, 2006.
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