quinta-feira, 8 de abril de 2010

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (C2): PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA

PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA: METAFÍSICA, EPISTEMOLOGIA E FILOSOFIA POLÍTICA
A "A ALEGORIA DA CAVERNA" de PLATÃO (428 a.C. - 347 a.C) se encontra no Livro VII da obra "A REPÚBLICA". Nessa livro, Platão cria um vívido retrato de três importantes elementos da sua Filosofia: a METAFÍSICA, a EPISTEMOLOGIA e a FILOSOFIA POLÍTICA.
Platão expôs a sua filosofia em forma de diálogos, criando uma atmosfera propícia para que o leitor "participe" do jogo de perguntas e respostas que frequentemente aparecem nos diálogos platônicos. Outra característica dos seus é a presença do seu mestre, SÓCRATES. Sócrates quase sempre conduz os diálogos. Sua presença é uma homenagem de Platão, mas também evidencia como a filosofia platônica estava fortemente interligada com a filosofia socrática. Importante ressaltar que Sócrates deixou nada escrito; ele preferia filosofar através de diálogos ou conversas. Essa dimensão, a do diálogo, é ressaltada por Platão. Podemos afirmar que para a filosofia socrático-platônica, o diálogo é a base do filosofar.
Segundo Danilo Marcondes, autor da "Iniciação à História da Filosofia"[1], A Alegoria da Caverna" pode ser dividida em 3 partes:

I - A CENA
II - A LIBERDADE
III - O SENTIDO POLÍTICO

Trabalharemos, a seguir, com essa divisão.

I - A CENA

Dentro duma caverna, existem prisioneiros amarrados. Eles estão no fundo da caverna e os seus corpos estão praticamente imobilizados. Desde há muito, esses prisioneiros se acostumaram a ver sombras no fundo da caverna; essas sombras são consideradas reais. Também, os prisioneiros ouvem sons atrás de si. Esses sons se originam das pessoas que carregam estandartes e conversam coisas variadas. Atrás dessas pessoas que carregam esses estandartes há uma fogueira, num plano superior, cuja luz projeta as sombras dos símbolos dos estandartes no fundo da caverna. Desse modo, aquilo que os prisioneiros consideram como sendo "A Realidade" é, na verdade, a projeção de símbolos que eles entendem de um modo particular. Assim, um estandarte circular poderia ser entendido como sendo uma "água gelada", porque um dos que carregavam os estandartes falou para outro: "Eis a "água gelada"...

II - A LIBERDADE

Alguns prisioneiros se acomodam com essa situação descrita em I. Porém, um dos prisioneiros é despertado pela curiosidade e resolve se libertar das correntes. Comumente, se associa às correntes certos hábitos que favorecem a ignorância, tais como: acomodação/preguiça, costumes, preconceitos, dogmas, tradição etc.

Logo após se libertar, o prisioneiro percebe que só via sombras projetadas na parede. Ele descobre da onde vinham essas sombras. Agora, ele toma os estandartes como sendo a realidade; todavia ele logo descobre que existe uma fonte de luz - a fogueira - que estrutura as sombras no fundo da caverna. Podemos entender que a descoberta dos estandartes é a descoberta de uma realidade superior com relação às sombras projetadas no fundo da caverna.

Nosso prisioneiro liberto sofre com a visão da luz produzida pela fogueira, porque ele se acostumou, há muito, a viver na escuridão. Por isso, seus olhos doem. Ou seja, conhecer a realidade machuca os sentidos - no caso, a visão -, fazendo com que o prisioneiro até se afaste da luz. Aqui, podemos fazer um paralelo entre a ignorância e o conhecimento. Na espistemologia platônica, o processo de conhecimento da verdade é algo doloroso e desconfortável. Tão doloroso que alguns preferem nem fazê-lo para evitar sofrimentos. Sofrimento, aqui, pode ser entendido como o desconforto de sentir crenças muito arraigadas destruídas pela verdade. Como se costuma dizer: "a verdade dói", ou ainda, "a ignorância é uma benção".

Nosso prisioneiro continua a sua jornada rumo para fora da caverna. Fora da caverna ele encontra o mundo verdadeiro com animais, plantas, cores que ele nunca tinha percebido, sons, outras pessoas, enfim, ele encontra a verdadeira realidade que é estruturada pela luz do Sol. Também, aqui, nosso prisioneiro sofre agudamente para encarar a luz solar, mas depois que ele acostuma sua visão, ele consegue se maravilhar com a realidade superior.
Assim, a metafísica platônica é fortemente marcada pelas noções de realidade e aparência. Para Platão, nossos sentidos só conseguem capturar um mundo de aparências, o mundo dos prisioneiros que estavam dentro da caverna. O mundo fora da caverna, que é iluminado pelo Sol, é o mundo da verdadeira realidade. Na espistemologia ou teoria do conhecimento platônica, a verdadeira realidade não é atingível pelos sentidos, só se pode atingi-la pela alma racional. Temos, assim, uma separação radical entre aparência e realidade na metafísica platônica. A fogueira, que ilumina a realidade da caverna, pode ser considerada a realidade sensível ou inferior, enquanto o Sol, que ilumina a realidade do mundo fora da caverna, pode ser considerado a realidade inteligível ou superior. Importante ressaltar que no dualismo platônico - em que há uma separação radical entre aparência e realidade -, a realidade ou verdade se encontra no Mundo das Ideias ou das Formas, um mundo aonde as verdadeiras ideias existem de fato. Assim, a ideia de "humanidade" existe no Mundo das Formas e é esse mundo, ou realidade, que estrutura o nosso mundo inferior. Nós somos como que cópias imperfeitas dessa ideia de "humanidade", mas participamos, sem dúvida, dessa ideia.


III - O SENTIDO POLÍTICO

Resumindo, nosso prisioneiro liberto antes pensava que as sombras projetadas no fundo da caverna fossem a realidade. Ele vence a acomodação e descobre a "realidade" das sombras que , na verdade, são as formas de estandartes que recebem a luz duma fogueira. Ele não só se acostuma com a luz da fogueira, que machuca a sua visão, como também vence a luz do Sol, permitindo que o nosso prisioneiro descubra o mundo verdadeiro com toda a sua beleza e magnitude.
Todavia, no diálogo "A Alegoria da Caverna", Platão acha que o prisioneiro deve voltar para a caverna. Mas por que alguém que conheceu a realidade superior deve voltar para uma realidade inferior?
A resposta de Platão é simples e mostra o sentido político de sua filsofia. Para Platão, alguém que conheceu a verdade não pode guardar essa descoberta para si, ele deve compartilhar com os outros o seu conhecimento. Assim, o prisioneiro deve voltar para a caverna e relatar para os outros acorrentados o que ele descobriu. Todavia, obviamente muito dos acorrentados receberão com desconfiança as notícias trazidas pelo liberto. Alguns o acusarão de loucura, outros se irritarão por não aceitarem uma realidade diferente daquela exposta no fundo da caverna. Os mais exaltados podem, até mesmo, querer matar o nosso prisioneiro liberto. De certa maneira, podemos entender que Platão fez, aqui, um paralelo com a morte de Sócrates. Nessa leitura, Sócrates quis mostrar a verdade para o povo ateniense, mas isso lhe custou a vida. Desse modo, o filósofo deve mostrar a verdade, mesmo que isso lhe custe a vida devido, entre outros, à ignorância, ao fanatismo ou à força da falsa realidade.
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[1] MARCONDES, D. "Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002

13 comentários:

  1. mais qual o dialago ?
    meu prefessor pedio o trabalho sobre a alegoria mais naum to achando o dialago

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  2. A postagem é uma pequena análise da Alegoria da Caverna de Platão.

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  3. Olá! Antes de tudo parabéns por ser idealista e fazer parte da mídia alternativa que é um blog.

    Convido para que leia artigo onde faço um paralelo entre o mito da caverna de Platão e a educação no Brasil. Acessem o blog:

    www.valdecyalves.blogspot.com

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  4. responde para miim ? ó: "Para Platão, a verdadeira realidade se encontra no mundo das ideis, lugar de essência imultável de todas as coisas."
    -Essa afirmação está correta ?
    Obrigada

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  5. Eu diria que sim. A Alegoria da Caverna aponta para essa resposta. Assim, o "homem ideal" ou o homem perfeito existe no mundo das ideias ou das formas. Nesse mundo, se encontra a verdadeira essência de todos os objetos - homem, cadeira, fio de cabelo -, mesmo aqueles objetos que não existiam no tempo de Platão, como o sorvete ou o carro.
    A grande questão é saber se todos esses objetos participam de um "único" ser que comporta todas as características de tudo o que há no seu grau mais perfeito. Mas talvez você não tenha que se preocupara com isso.
    Espero que eu tenha ajudado.
    Abraço,
    Professor Paulo

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  6. qual é o significado da caverna e das pessoas amarradas pelas pernas e pelo pescoço? que tipo de conhecimento corresponde a esse estágio?

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  7. Eu diria que essas amarras podem significar a preguiça, o comodismo e a aceitação dos costumes de forma não crítica.
    Penso, também, que esse tipo de conhecimento está mais relacionado ao conhecimento cultural, ligado às tradições e aos costumes.

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  8. qual o significado das pessoas amarradas pelas pernas e o pescoço?

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  9. Oque Platão Quer Evidenciar Com Alegoria Da Caverna ?

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    1. Olá Izabelle Quadros,
      sei que respondo com muito atraso, mas vou responder.
      Na minha avaliação, Platão quer evidenciar a busca pelo conhecimento e o papel político dessa busca. Há outros temas, mas acho que esses dois são bem relevantes para a Filosofia platônica.
      Desculpe o atraso!

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  10. ola meu professor pediu significados dos símbolos da alegoria da caverna mais não to achando? me ajudem

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  11. Olá,
    uma dos símbolos ou simbologia é o contraste luz/escuridão. A luz do Sol representa o verdadeiro conhecimento e a escuridão representa a ignorância.
    Outro símbolo são as correntes que poder representar a preguiça, os costumes e a acomodação.
    Outro símbolo importante é a subida difícil para sair da caverna, representando a ideia de que a busca pelo conhecimento é difícil, complexa e por vezes dolorosa.
    Há outros símbolos, mas esses são os mais evidentes.
    Espero ter ajudado!

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