segunda-feira, 7 de agosto de 2023

RUSSELL CONTRA A BOMBA


 

RUSSELL CONTRA A BOMBA

 


Bertrand Russell (1872 – 1970), um dos mais influentes filósofos britânicos do século XX, foi uma figura notável que se destacou não apenas por suas contribuições para a filosofia, mas também por seu ativismo em prol da paz mundial. Neste artigo, vamos explorar a vida e as ideias desse intelectual corajoso e como ele se posicionou contra a ameaça da bomba atômica.

 

Quem foi Bertrand Russell?

Bertrand Arthur William Russell, nascido em 18 de maio de 1872, em Trellech, País de Gales, foi um pensador prolífico que abordou uma ampla variedade de tópicos filosóficos e políticos. Ele veio de uma linhagem de intelectuais e aristocratas e herdou o título de Conde de Russell, mas deixou de lado seu sangue azul em prol de sua busca pela verdade, sobretudo nos campos da Lógica, da Matemática e da Filosofia da Linguagem. Também, Russell foi um professor e pesquisador dedicado, além de se envolver em temas variados ligados ao mundo das artes, História, Política, dentre outros. Na parte final de sua vida, ele também se dedicou ao ativismo social, defendendo entre outros a liberdade e o pacifismo.







 As Contribuições Filosóficas de Russell

Russell é conhecido por seus trabalhos fundamentais na Lógica, Matemática, Epistemologia e Filosofia da Linguagem. Ele foi um dos fundadores da filosofia analítica e é reconhecido por sua obra "Principia Mathematica" [1] (1910), escrita em parceria com Alfred North Whitehead (1861 – 1947).

Entre outros, essa obra buscou estabelecer uma base lógica para a Matemática, o que, em certa medida, acabou se mostrando um fracasso. Todavia, essa importante obra influenciou uma série de pensadores – desde Ludwig Wittgenstein, passando pelos membros do Círculo de Viena, Alan Turing e Willard Van Orman Quine - que a perceberam ora como um ponto de partida para um novo jeito de se filosofar, ora como um projeto de impossível resolução, mas que lançava desafios importantes para o desenvolvimento do pensamento humano.

Sua abordagem filosófica era caracterizada por uma busca implacável pela clareza e rigor argumentativo. Russell acreditava que muitos dos problemas filosóficos surgiam de ambiguidades na linguagem e que a análise lógica cuidadosa poderia dissipar essas confusões, sempre se utilizando fundamentalmente do poder da racionalidade.

 

O Ativismo Pacifista de Russell

Além de suas contribuições acadêmicas e filosóficas, Bertrand Russell foi um ativista apaixonado que levantou sua voz contra as injustiças e atrocidades de seu tempo. Durante a Primeira Guerra Mundial, ele foi preso por seus protestos contra a participação do Reino Unido no conflito. Essa experiência fortaleceu ainda mais seu compromisso com a paz.

No entanto, foi após a Segunda Guerra Mundial que Russell emergiu como uma voz proeminente contra a ameaça da bomba atômica. O filósofo britânico percebeu fortemente a catástrofe humanitária que essa nova arma representava. Assim, a única esperança para a humanidade seria a busca pela paz e, consequentemente, a luta constante contra a guerra.

 

"O Manifesto Russell-Einstein"

Em 1955, Bertrand Russell e o físico Albert Einstein (1879 – 1955) elaboraram um manifesto histórico conhecido como "O Manifesto Russell-Einstein" [2]. Neste manifesto, eles destacaram a ameaça existencial representada pela guerra nuclear e instaram os líderes mundiais a buscar a paz e o desarmamento nuclear.

O manifesto ressaltou que a não busca pela coexistência pacífica levaria ao perigoso caminho da destruição em massa. Russell e Einstein alertaram para as consequências devastadoras de uma guerra nuclear e pediram um esforço global para evitar tal catástrofe. Obviamente, os signatários desse manifesto estavam impressionados com a informação de que as novas bombas, dos anos 50, notadamente a bomba de hidrogênio (Bomba H), eram mais de 2.500 vezes mais poderosas do que a bomba lançada em Hiroshima. [3]

 

O Legado de Bertrand Russell

O ativismo pacifista de Bertrand Russell e seu empenho na luta contra a bomba atômica deixaram um legado significativo. Seus esforços incansáveis ​​e sua coragem em enfrentar questões globais inspiraram inúmeras pessoas em todo o mundo a se levantarem contra a guerra e a defenderem a paz. Efeito esse que se faz perceber até os dias atuais, quando se sabe que as guerras entre nações, por exemplo, causam importantes e cruéis impactos nas dinâmicas populacionais.

Além disso, largamente se reconhece que as contribuições filosóficas de Russell continuam sendo relevantes e influentes atualmente. Sua abordagem analítico-racional e a busca por clareza ainda são consideradas fundamentais não só dentro do campo filosófico, mas também do pensamento humano de forma geral. [4]

 

Conclusão

Bertrand Russell deixou um importante legado para o desenvolvimento do pensamento humano. Ele foi um defensor apaixonado da paz mundial e um ativista incansável em sua luta contra a bomba atômica. Sua coragem em levantar sua voz contra as injustiças e sua dedicação à busca da paz são exemplos inspiradores para todos aqueles que sonham com uma sociedade justa, próspera e tolerante.

A memória de Russell e seu compromisso com a paz devem continuar nos lembrando da importância de defender valores humanitários e buscar soluções pacíficas para os conflitos globais e mesmo para os conflitos interpessoais. Sua mensagem ressoa ainda hoje, lembrando-nos de que é dever de cada um de nós trabalhar pela paz e pelo bem-estar de toda a humanidade.


Referências e Recomendações


[1] Na obra "Logicomix", afirma-se que mais de 350 páginas foram necessárias para mostrar, ou provar, que 1+1=2. 
Ver: 
LOGICOMIX: uma jornada épica em busca da verdade. Apostolos Doxiadis & Christos Papadimitriou. Trad. Alexandre Boide Santos. São Paulo, Ed. WMF Martins Fontes, 2010. 




[2] http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol6/Num1/pugwash.pdf

[3] Para saber mais sobre a construção e o impacto da Bomba Atômica no início da Guerra Fria, ver: 

A BOMBA. Didier Alcante & Laurent-Frédéric Bollée. Ed. Pipoca e Nanquim, 2023. 



OPPENHEIMER: o triunfo e a tragédia do Prometeu americano. Kai Bird & Martin J. Sherwin. Trad. George Schlesinger, Ed. Intrínseca, 2023. (edição digital)


[4] Ver, por exemplo:
O ELOGIO AO ÓCIO. Bertrand Russell. Trad. Pedro Jorgensen Júnior. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. 




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