segunda-feira, 12 de abril de 2010

FILOSOFIA MEDIEVAL OU FILOSOFIA CRISTÃ

FILOSOFIA MEDIEVAL OU FILOSOFIA CRISTÃ
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INTRODUÇÃO
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Parece existir certa controversia na demarcação da Filosofia Medieval, pelo menos quanto ao seu início. José Silveira da Costa, professor da UFRJ, propõe que a Filosofia Medieval se inicia no século I depois de Cristo. Nessa postagem, utilizaremos essa sugestão. Assim, podemos considerar que a Filosofia Medieval se inicia no século I e vai até o século XIV depois de Cristo. Também, podemos afirmar que a Filosofia Medieval teve forte influência do cristianismo, do platonismo e do aristotelismo.
A Filosofia Cristã se divide em dois momentos: a Patrística e a Escolástica. A Patrística se estende dos séculos I até o V; enquanto a Escolástica se estende dos séculos X até o XIV.
Um dos principais interesses filosóficos dessa época é o conflito entre FÉ e RAZÃO. Todos os pensadores dessa época podem ser considerados cristãos, mas alguns deles lidaram com questões filosóficas que iam de encontro a alguns dogmas do cristianismo. Do mesmo modo, algumas verdades da fé criaram alguns problemas para quem tentou unir fé e razão.
Assim, o conflito entre e fé e razão, ou entre Teologia e Filosofia promoveu interessantes análises e debates. Afinal, a fé é superior a razão? A razão é superior a fé? Ou as duas possuem o mesmo nível de importância? Obviamente,

sábado, 10 de abril de 2010

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (C2): A METAFÍSICA DE ARISTÓTELES

UM BREVE COMENTÁRIO À METAFÍSICA DE ARISTÓTELES: LIVRO "ALFA", CAPÍTULOS I E II
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-O objetivo desta postagem é fazer um brevíssimo comentário dos dois primeiros capítulos da obra "Metafísica" de Aristóteles. Também, a tentativa é fazer uma análise superficial, mas correta, dessa obra, visando criar um texto acessível para pessoas que, por uma razão ou outra, se interessaram pelo pensamento aristotélico.
A "Metafísica" é uma das obras mais importantes do pensamento ocidental. Até hoje, essa obra possui pontos que ainda servem de base para certos debates filosóficos. Mas é bom alertar que essa obra possui algumas passagens muito difíceis e, até mesmo, obscuras. Felizmente, nosso intuito é analisar os capítulos I e II que não exigem maiores malabarismos filosóficos.
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CAPÍTULO I
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Aristóteles começa a sua obra com a seguinte afirmação: "Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer (...)". O Capítulo I da "Metafísica" é uma tentativa de explicar essa frase; mais, é uma tentativa de estruturar o que seja o conhecimento. Desse modo, o Capítulo I caminha pela epistemologia, ou teoria do conhecimento, aristotélica. Diferente de Platão, Aristóteles aceita que o conhecimento começa na sensação.
Como visto, para Platão, na "A Alegoria da Caverna", o conhecimento sensível é falso ou ilusório, somente a alma racional é capaz de alcançar o verdadeiro conhecimento que não é capturável pelos nossos sentidos. Essa tese é combatida por Aristóteles que valorizará a experiência sensível como sendo o ponto de partida para formas de conhecimento mais complexas.
A partir do texto "A Metafísica", podemos afirmar que o conhecimento passa por 5 etapas, num crescente de complexidade:
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1) SENSAÇÃO
2) MEMÓRIA
3) EXPERIÊNCIA
4) ARTE OU TÉCNICA
5) TEORIA OU CIÊNCIA
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Assim, a Sensação seria o tipo de conhecimento mais simples, enquanto a Teoria seria o tipo de conhecimento mais complexo.
A Sensação está ligada aos nossos 5 sentidos (audição, olfato, paladar, tato e visão). Nossos sentidos propiciam o aparecimento d'algum tipo de sensação. Por exemplo, a dor decorrente de se colocar a mão no fogo nos avisa que o fogo é perigoso para a constituição física humana.
A Memória é um passa além da Sensação. Podemos entender que a memória é a capacidade de agarrar alguma sensação passada. Por exemplo, a memória tenta "agarrar" a sensação da dor no momento que alguém percebe uma fogueira perigosamente próxima. Assim, a memória tem o poder de alertar sobre uma situação que pode gerar efeitos desagradáveis. Importante ressaltar que, para Aristóteles, alguns animais não racionais possuem memória, como, por exemplo, as abelhas.
A Experiência pode ser entendida como a capacidade humana de aprender com a memória, criando relações desta com os dados sensoriais. Assim, a memória nos avisa que fogo é algo perigoso, mas a Experiência nos mostra maneiras de lidar com uma fogueira perigosamente próxima. Por exemplo, pode-se jogar água ou areia no fogo, pode-se cobri-lo com algum material grosso, pode-se, com algum risco, tentar atravessá-lo, ou, na pior das hipóteses, pode-se cometer suicídio porque há nada que se possa fazer para tentar salvar a própria vida.
O conhecimento ligado à Arte possui duas características que podem se encontrar juntas ou separadas. Assim, a Arte, ou Técnica, pode ser divida em Conhecimento Prático e Conhecimento Técnico.
O Conhecimento Prático está relacionado com a prática; ou seja, alguém que sabe fazer algo de tanto praticar. Podemos considerar que o Conhecimento Prático é um conhecimento mais intuitivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Dona Maria, que faz saborosos doces munida apenas de sua intuição; ela se utiliza apenas da sua experiência e dos seus sentidos para fazer os seus doces, os quais são disputados a peso de ouro por uma grande freguesia.
O Conhecimento Técnico está relacionado com regras, leis e capacidade de passar objetivamente certo conhecimento. Podemos considerar que o Conhecimento Técnico é um conhecimento mais objetivo. Por exemplo, é plausível pensar numa doceira, chamada Chef Marie, que estudou nas melhores escolas de gastronomia da Europa, mas não faz doces tão gostosos quanto os da Dona Maria.
Obviamente, a Arte/Técnica se mostra com mais força quando se comunga Conhecimento Prático + Conhecimento Técnico. Todavia, para Aristóteles, nem sempre esses dois caminham juntos. Importante ressaltar que nesse nível de conhecimento o indivíduo é capaz de fazer generalizações. Além disso, o conhecimento ligado à Arte / Técnica é prático, no sentido de exigir uma finalidade; assim, a finalidade da Dona Maria pode ser ganhar dinheiro, enquanto da Chef Marie pode ser ganhar fama.
Por fim, a Teoria / Ciência é o conhecimento do "Real". Nesse nível de conhecimento se é capaz de lidar com conceitos e princípios abstratos. Com todas as ressalvas já levantadas nessa postagem, podemos entender que esse conhecimento se assemelha ao conhecimento verdadeiro presente na "A Alegoria da Caverna" de Platão. De certo modo, aquele que possui o conhecimento teórico ou científico é capaz de contemplar a Ideia do Bem, como no caso do prisioneiro liberto da alegoria que conhece o Sol e a verdadeira realidade. Importante ressaltar que, para Aristóteles, o conhecimento teórico ou científico não possui uma finalidade prática. É um conhecimento pelo conhecimento, ou "a busca do saber pelo saber". Nesse sentido, Aristóteles acreditava que o Conhecimento Teórico não pode estar "amarrado" a interesses mais imediatos, porque aí se perde, digamos, a liberdade filosófica.
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CAPÍTULO II
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No capítulo II da "Metafísica", Aristóteles trata do papel do filósofo. Para o estagirita, uma preocupação filosófica central é tentar conhecer as causas primeiras, ou melhor, as causas mais fundamentais que originam todo o resto.

É importante conhecer as causas primeiras porque, entre outros, essa pesquisa fornece as leis da realidade. A realidade última, ou mais fundamental, possui leis universais apreensíveis pelo conhecimento teórico. Por causa disso, Aristóteles considera que o Conhecimento Teórico ou Científico é superior ao Conhecimento Prático. Essas leis universais são verdadeiras e valem universalmente; por isso, essas leis fornecem as características de algo particular. Por exemplo, a Lei da Gravidade descoberta por Sir Isaac Newton pretende ser universal, ou seja, vale para qualquer objeto pesado existente no universo. Assim, não é necessário arremessar todas as pedras existentes para concluir que elas cairão.

Nesse sentido a busca pelas causas primeiras é uma busca pela verdade, a qual só é alcançada se se pergunta pelo "por que" dos fenômenos, respondendo o "porquê" desses fenômenos. Essa busca pelos "porquês" causa admiração. Por isso, para Aristóteles, a Filosofia começa com um espanto que instiga a investigação. Aqui, Aristóteles se aproxima, mais uma vez, da Filosofia platônica. Vale lembrar que o prisioneiro liberto da "A Alegoria da Caverna" é movido pela curiosidade que proporciona admiração e espanto ao longo da subida rumo à saída da caverna.
A busca das leis universais que estruturam a realidade, ou a busca pelas causas primeiras é o objeto da ciência filosófica. O conhecimeto teórico, como já colocado, não procura uma utilidade prática, porque a realidade última não se conforma aos nossos interesses práticos; a realidade última é soberana e absoluta.
Finalizando, a busca pelas causas primeiras é a principal atividade filosófica. Podemos inferir pelo texto aristotélico, que essa atividade é uma combinação de Metafísica e Epistemologia. Também, essa atividade exige um alto grau de exercício racional. Para Aristóteles, nesse exercício se encontra a maior felicidade humana que é justamente filosofar. Na metafísica aristotélica, Filosofia é uma atividade divina.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (C2): PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA

PLATÃO E A ALEGORIA DA CAVERNA: METAFÍSICA, EPISTEMOLOGIA E FILOSOFIA POLÍTICA
A "A ALEGORIA DA CAVERNA" de PLATÃO (428 a.C. - 347 a.C) se encontra no Livro VII da obra "A REPÚBLICA". Nessa livro, Platão cria um vívido retrato de três importantes elementos da sua Filosofia: a METAFÍSICA, a EPISTEMOLOGIA e a FILOSOFIA POLÍTICA.
Platão expôs a sua filosofia em forma de diálogos, criando uma atmosfera propícia para que o leitor "participe" do jogo de perguntas e respostas que frequentemente aparecem nos diálogos platônicos. Outra característica dos seus é a presença do seu mestre, SÓCRATES. Sócrates quase sempre conduz os diálogos. Sua presença é uma homenagem de Platão, mas também evidencia como a filosofia platônica estava fortemente interligada com a filosofia socrática. Importante ressaltar que Sócrates deixou nada escrito; ele preferia filosofar através de diálogos ou conversas. Essa dimensão, a do diálogo, é ressaltada por Platão. Podemos afirmar que para a filosofia socrático-platônica, o diálogo é a base do filosofar.
Segundo Danilo Marcondes, autor da "Iniciação à História da Filosofia"[1], A Alegoria da Caverna" pode ser dividida em 3 partes:

I - A CENA
II - A LIBERDADE
III - O SENTIDO POLÍTICO

Trabalharemos, a seguir, com essa divisão.

I - A CENA

Dentro duma caverna, existem prisioneiros amarrados. Eles estão no fundo da caverna e os seus corpos estão praticamente imobilizados. Desde há muito, esses prisioneiros se acostumaram a ver sombras no fundo da caverna; essas sombras são consideradas reais. Também, os prisioneiros ouvem sons atrás de si. Esses sons se originam das pessoas que carregam estandartes e conversam coisas variadas. Atrás dessas pessoas que carregam esses estandartes há uma fogueira, num plano superior, cuja luz projeta as sombras dos símbolos dos estandartes no fundo da caverna. Desse modo, aquilo que os prisioneiros consideram como sendo "A Realidade" é, na verdade, a projeção de símbolos que eles entendem de um modo particular. Assim, um estandarte circular poderia ser entendido como sendo uma "água gelada", porque um dos que carregavam os estandartes falou para outro: "Eis a "água gelada"...

II - A LIBERDADE

Alguns prisioneiros se acomodam com essa situação descrita em I. Porém, um dos prisioneiros é despertado pela curiosidade e resolve se libertar das correntes. Comumente, se associa às correntes certos hábitos que favorecem a ignorância, tais como: acomodação/preguiça, costumes, preconceitos, dogmas, tradição etc.

Logo após se libertar, o prisioneiro percebe que só via sombras projetadas na parede. Ele descobre da onde vinham essas sombras. Agora, ele toma os estandartes como sendo a realidade; todavia ele logo descobre que existe uma fonte de luz - a fogueira - que estrutura as sombras no fundo da caverna. Podemos entender que a descoberta dos estandartes é a descoberta de uma realidade superior com relação às sombras projetadas no fundo da caverna.

Nosso prisioneiro liberto sofre com a visão da luz produzida pela fogueira, porque ele se acostumou, há muito, a viver na escuridão. Por isso, seus olhos doem. Ou seja, conhecer a realidade machuca os sentidos - no caso, a visão -, fazendo com que o prisioneiro até se afaste da luz. Aqui, podemos fazer um paralelo entre a ignorância e o conhecimento. Na espistemologia platônica, o processo de conhecimento da verdade é algo doloroso e desconfortável. Tão doloroso que alguns preferem nem fazê-lo para evitar sofrimentos. Sofrimento, aqui, pode ser entendido como o desconforto de sentir crenças muito arraigadas destruídas pela verdade. Como se costuma dizer: "a verdade dói", ou ainda, "a ignorância é uma benção".

Nosso prisioneiro continua a sua jornada rumo para fora da caverna. Fora da caverna ele encontra o mundo verdadeiro com animais, plantas, cores que ele nunca tinha percebido, sons, outras pessoas, enfim, ele encontra a verdadeira realidade que é estruturada pela luz do Sol. Também, aqui, nosso prisioneiro sofre agudamente para encarar a luz solar, mas depois que ele acostuma sua visão, ele consegue se maravilhar com a realidade superior.
Assim, a metafísica platônica é fortemente marcada pelas noções de realidade e aparência. Para Platão, nossos sentidos só conseguem capturar um mundo de aparências, o mundo dos prisioneiros que estavam dentro da caverna. O mundo fora da caverna, que é iluminado pelo Sol, é o mundo da verdadeira realidade. Na espistemologia ou teoria do conhecimento platônica, a verdadeira realidade não é atingível pelos sentidos, só se pode atingi-la pela alma racional. Temos, assim, uma separação radical entre aparência e realidade na metafísica platônica. A fogueira, que ilumina a realidade da caverna, pode ser considerada a realidade sensível ou inferior, enquanto o Sol, que ilumina a realidade do mundo fora da caverna, pode ser considerado a realidade inteligível ou superior. Importante ressaltar que no dualismo platônico - em que há uma separação radical entre aparência e realidade -, a realidade ou verdade se encontra no Mundo das Ideias ou das Formas, um mundo aonde as verdadeiras ideias existem de fato. Assim, a ideia de "humanidade" existe no Mundo das Formas e é esse mundo, ou realidade, que estrutura o nosso mundo inferior. Nós somos como que cópias imperfeitas dessa ideia de "humanidade", mas participamos, sem dúvida, dessa ideia.


III - O SENTIDO POLÍTICO

Resumindo, nosso prisioneiro liberto antes pensava que as sombras projetadas no fundo da caverna fossem a realidade. Ele vence a acomodação e descobre a "realidade" das sombras que , na verdade, são as formas de estandartes que recebem a luz duma fogueira. Ele não só se acostuma com a luz da fogueira, que machuca a sua visão, como também vence a luz do Sol, permitindo que o nosso prisioneiro descubra o mundo verdadeiro com toda a sua beleza e magnitude.
Todavia, no diálogo "A Alegoria da Caverna", Platão acha que o prisioneiro deve voltar para a caverna. Mas por que alguém que conheceu a realidade superior deve voltar para uma realidade inferior?
A resposta de Platão é simples e mostra o sentido político de sua filsofia. Para Platão, alguém que conheceu a verdade não pode guardar essa descoberta para si, ele deve compartilhar com os outros o seu conhecimento. Assim, o prisioneiro deve voltar para a caverna e relatar para os outros acorrentados o que ele descobriu. Todavia, obviamente muito dos acorrentados receberão com desconfiança as notícias trazidas pelo liberto. Alguns o acusarão de loucura, outros se irritarão por não aceitarem uma realidade diferente daquela exposta no fundo da caverna. Os mais exaltados podem, até mesmo, querer matar o nosso prisioneiro liberto. De certa maneira, podemos entender que Platão fez, aqui, um paralelo com a morte de Sócrates. Nessa leitura, Sócrates quis mostrar a verdade para o povo ateniense, mas isso lhe custou a vida. Desse modo, o filósofo deve mostrar a verdade, mesmo que isso lhe custe a vida devido, entre outros, à ignorância, ao fanatismo ou à força da falsa realidade.
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[1] MARCONDES, D. "Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein". Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002